Grandes desafios de uma jovem Igreja

Crescimento explosivo dos evangélicos no Brasil não esconde os paradoxos de um povo que precisa combater suas próprias mazelas.

Por Valter Gonçalves Jr



Grandes desafios de uma jovem Igreja


Aos 40 anos, o cearense Raimundo Nonato Pereira dos Anjos tem um só objetivo na vida: pregar o Evangelho. Vendedor ambulante, diariamente segue de ônibus entre Brasília e a cidade-satélite de Ceilândia, umas das mais violentas do Distrito Federal, onde mora. Pereira, como é conhecido, prefere não ter um emprego fixo, o que, acredita, o impediria de fazer o que realmente gosta: evangelizar nos coletivos, nas ruas e nos hospitais, enquanto sai para vender produtos como balas, doces e salgados. “Não me vejo sem fazer esta obra. Abri mão de tudo que é meu”, diz sorridente o ambulante, uma espécie de missionário informal. “Coloquei em primeiro lugar as coisas de Deus. Não tenho ganância”, diz, revelando que não faz proselitismo de sua denominação — congrega na Igreja Batista Ebenézer — e que não pede dinheiro aos crentes.

Convertido há apenas três anos, Pereira, que é solteiro, deixou bebida e drogas para viver uma rotina que inclui, às quartas-feiras, a visita ao Hospital de Apoio, em Brasília, especializado em tratamento de pacientes terminais ou com seqüelas graves, onde foi ouvido pela reportagem. “Muitas pessoas vão à igreja apenas para conseguir bens materiais e poucos fazem a obra de Deus com seriedade”, opina. Apesar de ter a Bíblia na ponta da língua, ele lamenta sua baixa instrução, o que em alguns momentos, reconhece, torna o trabalho de evangelização mais difícil. Pereira talvez nem desconfie, mas seus bons frutos aparecem nas estatísticas que apontam para o recente e gigantesco crescimento da Igreja Evangélica brasileira. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, ela já conta com quase um quarto da população do país e continua avançando.

Mas pouca gente saberia determinar qual a feição e os rumos dessa Igreja e, a partir disso, qual o impacto sócio-cultural da conversão de boa parte dos brasileiros ao Evangelho. “Parece que a única ou a maior preocupação da Igreja Evangélica brasileira hoje é o crescimento do número de igrejas e de fiéis”, diz o pastor presbiteriano Elben Lenz César, fundador da editora Ultimato, criada em 1968, quando a presença protestante ainda era incipiente no Brasil. “Aos outros desafios, aos outros alvos do Reino de Deus, não se dá a devida atenção. Em geral, somos omissos e talvez medrosos”, diz.

Continue lendo...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A UNIÃO ENTRE OS IRMÃOS

Evangélicos praticam o nudismo “sem culpa” em praias brasileiras

Mateus 6:16-18