De ganhar almas para missão integral

Poor KidDevo confessar que durante muitos anos após minha conversão, eu não sabia o que era amar as pessoas realmente. Eu pregava o Evangelho, queria ganhar almas, visitava presos e sem-tetos, mas parecia apenas uma obrigação, algo para ver-me livre do senso de culpa que eu teria caso não fizesse isso. Naquela época, eu não dava valor algum para obras sociais. Pelo contrário, eu pensava que além de ser perda de tempo, envolver-se com projetos sociais representava também o risco de cair em “heresias” como as da Teologia da Libertação. O que importava mesmo era “ganhar almas” para Cristo. A experiência de ver as pessoas como pessoas (e não como almas a serem salvas para aumentar o galardão no céu) foi um processo lento que começou quando eu estava no seminário. Fui enviado com uma pequena equipe para fazer um estágio em uma cidade mineira e implantar lá uma igreja evangélica. Após seis meses, havíamos feitos muitos amigos e uma pequena comunidade de discípulos de Jesus estava se formando, quando fomos chamados a retornar para o seminário. Lembro-me da indignação que eu e meus companheiros sentimos ao ter que deixar aquelas pessoas com lágrimas nos olhos, quase como órfãos espirituais. De alguma forma, nosso sentimento era de que nós as havíamos usado como laboratório ministerial. Mas elas eram pessoas, gente, seres humanos com necessidades reais, com capacidade de amar e se ferir. Não eram almas para serem salvas, mas pessoas que aprendemos a amar no processo de compartilhar o amor de Deus a elas. Anos mais tarde, morando em Amsterdam, comecei a freqüentar reuniões de terças-feiras à noite no The Cleft (a fenda), um dos ministérios da JOCUM bem no coração do Red Light District (distrito da luz vermelha). Andando pelas ruelas cercado de prostitutas nas vitrines e dezenas de sex shops com material explícito à vista, eu caminhava de cabeça baixa. Não me sentia à vontade fazendo o caminhada até o local, mas como havia sido chamado lá para interpretar os estudos bíblicos para uma prostituta brasileira chamada Isabel, eu fazia o esforço de ir até lá. Ao começar a interpretar para Isabel, de repente, comecei a vê-la não como uma prostituta, um produto, mas como um ser humano, frágil, com medo, perdida. Percebi que ela era tão carente de Deus quanto eu mesmo. Foi a primeira vez que olhei para uma prostituta como ser humano. Com o tempo, entendi que eu estivera sofrendo como resultado da dicotomia entre alma e espírito que valoriza um em detrimento do outro. Compreendi que o ser humano é um todo complexo de corpo material e alma imaterial, e que, portanto, o chamado de Deus é para amar a pessoa por inteiro e não apenas se interessar por sua alma. Minha missiologia passou a ser um pouco mais holística, assim como diz o Manifesto de Manila: “Todo o Evangelho para a pessoa por inteiro em todo mundo.” Minha visão deixou de ser de apenas salvar almas, para amar e servir seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus. Já não estou interessado em estatísticas de conversão tanto quanto estou em ver pessoas sendo abraçadas pelo amor sem medidas do Pai, através de Seu Corpo na terra, a Igreja. Afinal de contas, Jesus disse que o amor seria a marca de seus seguidores. O apóstolo João expandiu isso dizendo que é praticamente impossível amar a Deus sem amar o próximo - e se o próximo estiver em necessidade e eu tiver recursos e não fizer nada por ele, como ouso dizer que amo a Deus? Ganhar almas é relativamente fácil; difícil é amar pessoas, pois exige a crucificação do eu. Se a Igreja é uma comunidade de irmãos e irmås, uma família espiritual, ela precisa ver as pessoas como pessoas, e não meras almas penadas entre o céu e o inferno. Por isso não dizemos: “Eu amo sua alma”, mas “Eu amo você.”

Por Sandro Baggio

Blog do rev Baggio

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