'Nossa religião também foi sequestrada', diz líder islâmico sobre 11/9


Uma década depois dos ataques que mataram quase 3 mil pessoas nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, os muçulmanos que vivem no país ainda enfrentam o desafio de apagar a imagem negativa sobre sua religião.


"A nossa religião também foi sequestrada naquele dia", disse à BBC Brasil o paquistanês Naseem Mahdi, vice-presidente da organização islâmica Ahmadyya Muslim Community nos Estados Unidos.
Os atentados foram realizados por extremistas islâmicos ligados à rede Al-Qaeda, que sequestraram os dois aviões que atingiram as Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, além de um terceiro avião que se chocou contra o Pentágono, em Washington, e a aeronave que caiu em Shanksville, na Pensilvânia.
ALESSANDRA CORRÊADA BBC BRASIL, EM WASHINGTON
"A maioria dos americanos foi apresentada ao Islã dez anos atrás, no dia 11 de setembro. E foi o pior tipo de apresentação, feita pelo pior tipo de gente e nas piores condições", afirma.
Segundo Mahdi, a comunidade passou a sofrer com a desconfiança de vizinhos, colegas e da sociedade em geral, além de, em alguns casos, ser alvo inclusive de episódios de violência.
"Os ataques mudaram a vida dos muçulmanos que vivem nos Estados Unidos, e isso pode ser sentido diariamente. Muitos americanos pensam que todos os muçulmanos são um bando de terroristas", diz Mahdi.
"Quando você fala com as pessoas, tem a sensação de que elas não confiam em você. E elas carregam sempre a desconfiança de que você pode ser um terrorista, ou ter conexões com terroristas."
DESCONFORTO
Pesquisas recentes indicam que a sensação de desconfiança e desconforto por parte dos americanos que Mahdi diz sentir é visível em todo o país.
Segundo levantamento divulgado nesta semana pelo Public Religion Research Institute, em conjunto com o Brookings Institution, em Washington, 47% dos americanos acreditam que os valores muçulmanos são incompatíveis com o modo de vida americano.
A pesquisa revela que 48% dos americanos se sentem desconfortáveis diante de mulheres muçulmanas usando a burca, 46% não ficariam confortáveis com a construção de uma mesquita perto de suas casas.
Outros 41% não se sentem confortáveis com a ideia de professores muçulmanos lecionando no Ensino Fundamental, e 30% acreditam que os muçulmanos que vivem nos Estados Unidos querem estabelecer a sharia (código de leis do islamismo).
"Nos últimos dez anos, ao conhecer alguém, você já tem de começar de um pressuposto negativo, dizendo 'eu não sou um terrorista, eu não acredito que o Islã deva ser propagado à força'", diz Mahdi.
EXTREMISMO
O líder islâmico afirma que o impacto dos atentados de 11 de setembro na opinião pública foi intensificado por uma intensa campanha de propaganda por parte de alguns grupos cristãos.
Mahdi cita o caso do pastor evangélico Terry Jones, responsável por uma pequena congregação de cerca de 50 fiéis em Gainesville, no Estado da Flórida, que causou polêmica ao promover uma campanha para queimar o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos.
"Esse caso mostra como, em algumas igrejas, as pessoas realmente odeiam o Islã e os muçulmanos", afirma.
"Após os atentados, muitos grupos começaram a dizer que os muçulmanos estavam aqui para destruir a civilização americana, que todos os muçulmanos têm uma agenda para prejudicar os Estados Unidos", diz Mahdi.
"É claro que sabemos que a maioria dos cristãos nos Estados Unidos não pensa assim. Isso é apenas uma minoria. Mas, do mesmo modo, é preciso dizer que é apenas uma minoria dos muçulmanos que explora a religião com ideias extremistas."
Segundo o líder islâmico, a imagem da religião também continua a ser prejudicada por uma parcela dos próprios muçulmanos que têm visões extremistas.
"Há pessoas no Paquistão, no Afeganistão, no Irã e em outros países que dizem que os ataques foram corretos, que a morte de quase 3 mil pessoas foi justificada, e que eles vão fazer ainda mais", diz.
CONFUSÃO
Outro fator a prejudicar a imagem da religião e causar confusão, segundo Mahdi, são os casos de muçulmanos nos Estados Unidos que acabam sendo cooptados pelo terrorismo.
Ele cita o episódio envolvendo o americano de origem paquistanesa Faizal Shahzad, preso após planejar explodir um carro-bomba na região de Times Square, em Nova York, no ano passado.
"Ele é paquistanês, vem de uma boa família, aparentemente levava uma vida pacata. E de repente se transformou em um terrorista e queria destruir Times Square. Isso confunde as pessoas", afirma.
"Por um lado, você ouve que o Islã não tolera o terrorismo. E, no entanto, seu vizinho, que aparentemente era uma boa pessoa, de uma hora para outra se transforma em um terrorista."
Segundo Mahdi, a confusão atinge também a nova geração de muçulmanos que vivem nos Estados Unidos, que podem acabar sendo influenciados por clérigos radicais.
"Nossa luta pacífica também é contra essa minoria de clérigos e fanáticos, que dizem que ao apresentarmos uma ideia pacífica do Islã estamos agindo como agentes do Ocidente", afirma.
Mahdi diz que a morte de Osama Bin Laden - morto em maio em uma operação de forças americanas no Paquistão - foi um grande golpe contra o terrorismo e contra a rede Al-Qaeda, da qual ele era líder.
"Mas há vários outros grupos que vão continuar a carregar a bandeira de Osama Bin Laden para destruir ou prejudicar os interesses americanos."
DOAÇÃO DE SANGUE
Para marcar os dez anos dos atentados, a organização liderada por Mahdi realiza uma campanha de doação de sangue durante todo o mês de setembro.
A meta é arrecadar 10 mil litros de sangue - quantia suficiente para salvar 30 mil vidas, diz Mahdi.
Segundo ele, a campanha se espalhou por mesquitas de todo o país, além de também ter conquistado a adesão de igrejas cristãs, sinagogas, templos hindus e de outras religiões.
"Acho que é nossa responsabilidade dar algo, oferecer algum tipo de sacrifício. Dez anos atrás, sangue inocente foi derramado por esses fanáticos. Então, decidimos dar nosso sangue para salvar vidas", diz.
Fonte: Folha.com com informações da BBC Brasil





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