Mercado ou ministério?

Chegada de gravadoras seculares ao segmento evangélico reacende discussão sobre separação música cristã e mundana.

Por Mauricio Zágari

Já vai longe o tempo em que música religiosa cristã era uma expressão artística restrita a celebrações religiosas e santuários e que encontrava seus entusiastas apenas entre os fiéis. Na era da música digital e da cultura de consumo, os hinos clássicos foram substituídos pela música da moda. Os maestros e organistas de catedral cederam lugar para artistas com fã clubes e cortes de cabelo moderninhos, e as igrejas abriram espaço para os auditórios de programas de TV. O termo “música sacra” parece coisa de museu, já que a palavra que define as novas tendências é o gospel – e, a reboque, as motivações de muitos que atuam nesse meio tornaram-se essencialmente financeiras. Fato é que o chamado mercado gospel tornou-se um negócio suculento, que movimenta milhões de reais por ano. Com isso, gravadoras seculares passaram a trazer para dentro de seus quadros músicos religiosos, rompendo com o antigo tabu evangélico de que não se pode misturar louvor com nada que seja, no jargão crente, “do mundo”. De olho na gorda fatia do mercado cristão, antigos pesos-pesados da indústria fonográfica, como a Sony Music e a Som Livre, embarcaram na onda gospel e estão apostando suas fichas em todo o lucro que esse nicho pode proporcionar.

Mercado ou ministério?

Números do setor de música gospel no Brasil: R$ 500 milhões é o faturamento anual 8% é o crescimento anual do segmento 15% são as perdas com pirataria. Na música secular, o índice atinge 50%.


O exemplo mais visível dessa penetração é o Ministério de Louvor Diante do Trono, formado por membros da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte (MG). O grupo, celebrado como ícone do estilo louvor e adoração, fechou contrato de distribuição com a Som Livre, empresa que pertence às organizações Globo – e justamente a Globo, normalmente demonizada por tantos evangélicos. O cast da empresa é bastante ecumênico e inclui ainda os padres cantantes Robson e Fabio de Mello. O objetivo, diz comunicado do ministério, é ampliar a atuação do grupo no mercado fonográfico. Mas a parceria abriu para o conjunto espaços ambicionados por qualquer artista pop do país, como vinhetas durante a programação da emissora e até uma aparição no programa Domingão do Faustão, exibido nas disputadas tardes de domingo. “É a possibilidade de chegar a lugares que ainda não atingimos com nossa mensagem”, disse a pastora e cantora Ana Paula Valadão, líder do grupo, na época da assinatura do contrato. “A ideia é reunir a excelência que temos nas nossas produções à que a Som Livre tem na distribuição.”

O acerto sintetiza na prática o que muitos artistas cristãos de primeira linha e empresas seculares buscam. Os primeiros encantam-se com a possibilidade de ter acesso a um esquema profissional de produção e distribuição – além, é claro (e quase ninguém hoje tem pudores de esconder isso), de auferir lucro. Já no caso das grandes empresas seculares, a conversa é mais direta: o foco é no filão evangélico, que não para de crescer no Brasil. Só no ano passado, o setor da música gospel movimentou algo em torno de R$ 500 milhões. Basta ver que o programa do apresentador Fausto Silva que levou ao ar Ana Paula e a equipe do Diante do Trono deu um pulo de 3 pontos de audiência só em São Paulo. Estima-se que, durante os 15 minutos em que a banda entoou seus louvores, mais de um milhão de pessoas se ligaram na telinha na cidade.

Depois foi a vez da pastora e compositora Ludmila Ferber ir ao programa de Fausto Silva. Numa tarde de domingo em novembro, ela divulgou no ar seu novo CD pela Som Livre, dividindo o microfone com o padre Fábio de Melo e o palco com as tradicionais dançarinas do programa, todas em trajes bem sumários e esbanjando sensualidade. Sua presença repercutiu nas redes sociais da internet (ver abaixo). A estrela pentecostal Cassiane foi ao Programa Raul Gil, do SBT, para divulgar seu CD Viva. E para fechar o ano – literalmente –, foi a vez de Aline Barros participar do Show da virada, exibido pela Globo no último dia de 2010.

O diretor executivo do Departamento de Gospel da Sony Music, Maurício Soares, confirma o interesse das empresas seculares no segmento. “A Sony já acompanhava à distância o desenvolvimento do mercado de música gospel no Brasil. Nos Estados Unidos, ela é, por meio do selo Provident-Integrity, a principal player do mercado cristão”, comenta. Segundo ele, que já teve passagens por algumas das principais gravadoras evangélicas, a implantação de um núcleo de música cristã é a culminância de um processo de aproximação da Sony com esse nicho. Já foram fechados 13 contratos com cantores e grupos, aí incluídos Cassiane, a banda Renascer Praise, Elaine de Jesus, Damares, Resgate – grupo formado por ex-bispos da Igreja Renascer –, Marcelo Aguiar, DJ Alpiste, Rayssa & Ravel e até o veterano Álvaro Tito. O resultado n”ao se fez esperar : em menos de um ano de atividades, a Sony Music passou a figurar entre as três empresas de maior faturamento no mercado gospel.

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FONTE: Cristianismo Hoje

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