Análise: Bin Laden pode ser mais perigoso morto do que vivo

Roger Hardy

Analista de Oriente Médio do Woodrow Wilson Center



Osama Bin Laden na região de Jalalabad, Afeganistão, em 1988 (Arquivo/AFP)

Para alguns, Bin Laden era um herói

A morte de Osama Bin Laden representa um momento-chave na história do movimento islâmico radical que ele liderava. Mas será que o inimigo número um dos Estados Unidos pode acabar se tornando ainda mais perigoso morto do que em vida?

Bin Laden previu que jamais seria capturado vivo e que inúmeros outros seguiriam com a sua causa após sua morte.

A primeira previsão foi confirmada. Resta saber se a segunda também será verdadeira.

Os americanos estão claramente satisfeitos com a notícia de que, finalmente, seu inimigo número um está morto.

Mas eles também devem estar se perguntando se, na morte, assim como em vida, ele continuará assombrando o país.

A afirmação, pelas autoridades americanas, de que Bin Laden foi enterrado no mar indica um desejo de minimizar seu papel de mártir.

Mas a medida também pode alimentar teorias conspiratórias sobre a morte do líder extremista, inclusive as que questionam se ele estaria mesmo morto.

Divisões

Uma preocupação imediata das autoridades americanas é a possível reação dos paquistaneses.

Osama Bin Laden era odiado por muitos, mas, para muitos outros, era um herói abnegado.

Haverá choque e revolta nas ruas do Paquistão.

A reação das autoridades do país também será motivo de nervosismo.

É profundamente embaraçoso para o governo paquistanês que o líder da Al-Qaeda estivesse em seu território e tão próximo da capital, Islamabad, apesar de as autoridades do país terem refutado com insistência essa possibilidade.

Isso explica por que o presidente americano, Barack Obama, fez tanta questão de enfatizar que, durante a operação, as forças americanas tinham ordens expressas de evitar mortes de civis.

O que o presidente não esclareceu é se o Paquistão teria tido algum envolvimento na operação.

Islamismo Radical

Restam duas questões: Haverá um futuro para a Al-Qaeda? E qual será a reação da organização?

O governo Obama já está se preparando para possíveis represálias no curto prazo, seja contra as forças americanas no Afeganistão ou, ainda pior, em território americano.

Para muitos, a questão principal é se, no longo prazo, a Al-Qaeda poderá sobreviver.

Desde o início do ano, alguns especialistas vêm argumentando que os levantes no mundo árabe tornaram a organização fundada por Bin Laden obsoleta.

Para estes, a morte do líder extremista confirmaria essa tendência.

Talvez. Mas as causas do radicalismo islâmico - as questões que, ao longo dos anos, permitiram que a organização recrutasse tantos jovens muçulmanos para a sua causa - permanecem inalteradas.

A morte de Bin Laden vai abater o moral da jihad global, mas não deve trazer seu fim.

Roger Hardy é professor convidado do Centre for International Studies da London School of Economics, LSE.

Fonte:

BBC

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