A migração dos africanos

Trezentos e quarenta e dois imigrantes clandestinos chegaram nesta quinta de barco à ilha de Lampedusa, na Itália. O grupo é originário do norte da África. Tanger. Como os marroquinos mesmo dizem, a cidade que fica na esquina do Atlântico com o Meditarrâneo. Por entre as ruas estreitas do centro antigo, está a ponta final de um dos grandes problemas da África. A Espanha está logo ali, do outro lado do Meditarrâneo, a apenas 14 quilômetros. Essa proximidade com a Europa faz de Tanger, no Marrocos, um pólo de imigração de todo o continente. É difícil encontrar quem queira falar, admitir que está no país para tentar a travessia. Conhecemos dois imigrantes de Guiné, país do lado ocidental da África, que teve um golpe de estado no fim do ano passado. Estão há três semanas em Tanger. "Qualquer um que vê um negro no Marrocos pensa que vamos para a Europa", diz Apla, de 22 anos. "Nos param na rua e falam, temos um barco, um carro, um esquema, podemos te levar para lá". Numa dessas ofertas, a dupla caiu num golpe e acabou perdendo o dinheiro economizado para a travessia. Normalmente, cobra-se o equivalente a R$ 2 mil para levar um imigrante ilegalmente até a Europa. Muitos tentam ir de carro mesmo. A 50 quilômetros de Tanger, fica Ceuta, um enclave espanhol dentro do Marrocos. Território europeu, um pequeno pedaço de terra que virou o Eldorado para muitos africanos. Aqui não é o único lugar. Há outras rotas. Do sul do Marrocos até as Ilhas Canárias, também território espanhol, ou do litoral da Tunísia ou da Líbia até a Itália. Há duas semanas, 200 pessoas morreram tentando chegar a Lampedusa, uma ilha italiana. "Sabemos que é perigoso. Conhecemos pessoas que foram presas. Antes do barco partir, na areia apareceu um helicóptero da polícia", diz outro imigrante de Guiné. Só no ano passado, 15 mil africanos chegaram ilegalmente à Itália e 31 mil à Espanha. O que leva a esse sacrifício tem várias razões. A primeira delas, a pobreza. Segundo as Nações Unidas, os 20 piores países para se viver no mundo são africanos. O continente é onde há o maior número de casos de AIDS. Em alguns países, como a África do Sul, de cada 100 pessoas, 18 tem o vírus HIV. Além da pobreza, o grande número de conflitos é o maior causador do fluxo de imigrantes. O Sudão é a nação-símbolo desses problemas. A religião foi a principal causa de uma guerra civil que dizimou dois milhões de pessoas. Muitos conflitos tiveram origem étnica. Cidadãos do mesmo país, mas de tribos de diferentes. O que provocou um dos capítulos mais dramáticos da África, o Genocídio de Ruanda, há 15 anos: 1 milhão de mortos. A instabilidade está ainda em muitos países, como a República Democrática do Congo. Na Somália, um país sem governo, ameaçado por piratas que atacam embarcações comerciais de outros países que passam pelo litoral somali. São nove milhões de refugiados na África. Entre viver num campo e arriscar uma fuga para uma nova vida, milhares ficaram e ficam com a segunda opção. A Europa colonizou a África até a primeira metade do século XX. Agora, vem recebendo a conta. E ela é numerosa e difícil de ser paga.

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