Nossos ídolos são mais cheirosos

Digão

Nas últimas eleições, viu-se brotar na população, especialmente no pessoal que freqüenta a internet, um sentimento de radicalismo poucas vezes visto. Vi muitos irmãos chamando a presidente Dilma de “marionete sociopata” e outros mimos do gênero, mas quando confrontados com a mentira que proferiam, emitiam impropérios terríveis.

Creio que isso decorre de um dormente preconceito de classes. Afinal, Dilma, como sucessora de Lula, seria uma representante das camadas mais pobres do Brasil, enquanto que José Serra, seu principal oponente, seria representante daquilo que Eliane Cantanhêde classificou (em ato falho) de “massas cheirosas”. A casa grande, em nosso país, está custando a saber conviver em um mesmo espaço com a senzala.

Mas o mais cruel disso tudo é o que vejo na internet em relação aos ídolos da chamada igreja evangélica. Se questionarmos certas figuras, com certeza sabemos que seremos aplaudidos. Afinal, esses vendilhões só sabem se locupletar do dinheiro dos pobres indefesos. Porém, se pensarmos em questionar outras vacas sagradas, aí o tempo fecha. Afinal, eles não se aproveitam do dinheiro alheio, são sensíveis, cultos e recitam poesia. E o melhor de tudo, são brancos.

Qualquer livro de sociologia da religião apontará que as igrejas pentecostais e neopentecostais possuem maior penetração nos meios sociais mais carentes, ao passo que as igrejas históricas têm seu público alvo nas classes sociais mais favorecidas. Isso é simples de se verificar fazendo um passeio em uma grande cidade, onde há grande número de igrejas pentecostais e neopentecostais em áreas pobres, enquanto que o número de igrejas históricas nesses lugares é bem menor.

É por isso que é muito fácil criticar o mercantilismo de Edir Macedo, mas quase uma heresia criticar a incoerência teológica de Ricardo Gondim. É fácil questionar Malafaia e sua sede desmedida de dinheiro e poder, mas é sacrilégio questionar Caio Fábio, que detona a igreja evangélica mesmo sendo membro da Catedral Presbiteriana do Rio. É fácil apontar a idolatria dos outros, mas é impensável apontar a nossa própria idolatria. Afinal, o sonho e a vocação da igreja evangélica (de acordo com Emile Leonard) é ser classe média e, portanto, “massa cheirosa”, ao contrário dos outros, dos pobres, da “gente diferenciada”. Mas, no frigir dos ovos, somos tão idólatras quanto aqueles que acusamos. Só não queremos nos aperceber disso. Do site  GENIZAH Apologética com Humor

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