Juventude evangélica enfrenta dificuldades para conciliar explosão da sexualidade com a própria fé.


No tempo certo 
*Texto originalmente publicado em Cristianismo Hoje
Thais Valentim tem 22 anos, trabalha como designer gráfica,mora em São Paulo, é evangélica de confissão batista e acredita  que sexo fora do casamento é pecado. A convicção, da qual não abre mão, é fruto de sua  e da formação que recebeu desde sempre na igreja  ela entende que é necessário esperar passar pelo altar para  iniciar a atividade sexual. “Essa é a vontade de Deus para seus filhos”, acentua a moça. Por, isso, aguarda o que chama de“momento certo”: “Há tempo para tudo, e existe também um tempo certo para se desfrutar da intimidade sexual, que é algo tão bom – e esse momento é depois do casamento”. Thaís vai além, e acredita que manter-se virgem para entregar-se apenas ao futuro marido é uma prova de amor. “Ainda mais em um tempo comoeste, em que a vida sexual começa cada vez mais cedo e isso é visto como algo natural, sendo até incentivado”. A designer admite que percebe, aqui e ali, olhares críticos por conta de sua opção. “Mas não saio por  levantando a bandeira ‘sou virgem’; apenas falo quando sou questionada ou percebo que a pessoa está disposta a realmente ouvir meu ponto de vista e respeitá-lo”, explica. “O que faz a diferença em minha vida é Jesus”, diz, resoluta.

A jovem já namorou, mas garante que o sexo nunca fez parte dessas relações. “É difícil as pessoas acreditarem que um casal de namorados pode optar por não ter relações sexuais antes docasamento”, acentua. Por isso mesmo, conta, já ouviu muitas piadinhas e sofreu certa pressão da própria família e de amigos. “Os virgens são vistos quase sempre como uns bobos, que, segundo os outros, não sabem o que estão perdendo”, continua Thais. Masela está em paz com a decisão que tomou. “Guardar-se não égarantia de que viveremos felizes para sempre”, Thais reconhece. Mas também acha que, além do aspecto da obediência ao queacredita ser o plano divino, a castidade pré-conjugal ajuda a reduzir a possibilidade de problemas antes e depois do casamento.

A experiência de Gabriela Garcia Murata, hoje com 25 anos, é bem diferente. Também evangélica  sua família é fundadora da I Igreja Batista de Várzea Paulista, em São Paulo –, ela cresceu ouvindo a mensagem que diz que sexo fora do casamento é pecado. “Fui adepta desse pensamento por muitos anos”, conta. Mais por imposição, reconhece: “Nas igrejas que frequentei, sempre ouvia a mesma coisa, mas nunca ninguém aprofundava o tema. Só se recitavam alguns textos da Bíblia que falam de imoralidade sexual, sem nada a ver com sexo antes do casamento”, opina. Atéque rolou. “Eu estava namorando e já nos conhecíamos havia alguns anos. Não foi um ato impensado, mas também não foi planejado. Eu queria que fosse com ele, mas não sabia quando. Numa ocasião propícia, aconteceu”, relembra.

Gabriela diz que, na época, tinha 20 anos de idade. “Não me senti culpada, pois não achava que havia pecado”, lembra. “Eu estava num relacionamento sério, com um homem maduro, quefrequentava minha casa antes de namorarmos e tinha a mesma visão que eu sobre o Reino de Deus. Continuamos normalmente”, explica. Uma gravidez inesperada antecipou os planos. Hoje, elaestá casada com Murilo, o pai de seu filho, e a família frequenta a Igreja Betesda. Ela não considera seu caso como um modelo paraninguém – na verdade, considera-se uma “exceção” Sobre o quelhe aconteceu, Gabriela pensa racionalmente. “Se não tivesse continuado o namoro, certamente, dentro de uma outra relação estável, o sexo aconteceria da mesma forma”. Ela critica o “discurso engessado” sobre sexo antes do casamento que, em suaopinião, é muito comum entre os evangélicos – e que leva muitos casais a “fazerem de tudo” em termos de carícias, exceto a consumação do ato. “É necessário mudar o discurso e abrir-se aodiálogo. Precisamos reler os textos, entender os contextos e repensar o tema; do contrário, a Igreja não vai proporcionar crescimento às pessoas.”

Thaís e Gabriela são apenas dois exemplos de como a questão dainiciação sexual dos jovens é complexa e dá vazão aos mais diversos tipos de experiências e comportamentos, sobretudo dentro do universo evangélico. O tema desperta grande interesse e polêmicana Igreja, sobretudo entre os crentes na faixa que vai dos 16 aos 24anos – período em que o desejo, os hormônios em ebulição e apressão social empurram o jovem para a cama. E esta éjustamente uma das faixas etárias preponderantes na pesquisa Os crentes e o sexo, realizada e divulgada pelo Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã (www.bepec.com.br). O estudo, envolvendo cerca de 12 mil evangélicos pesquisados em entrevistas virtuais, inquiriu diversos grupos acerca de seu comportamento sexual –como os casados, objeto de reportagem na edição nº 23 de CRISTIANISMO HOJE. O projeto foi concebido pelos editores do site Genizah e contou com a participação da revista, além de diversos líderes e acadêmicos que colaboraram na elaboração da linha de abordagem do tema e análise dos dados. Ao todo, cerca de 4,2 mil jovens responderam às questões.

Alguns dos resultados do estudo, cujos quadros são reproduzidos nesta reportagem, surpreenderam por contrariar o que muita gente imagina. Dos jovens solteiros naquela faixa etária, quase 60% disseram nunca ter praticado sexo. O número é alto e contraria o que se poderia esperar nos dias de hoje, com a relativização de muitos valores e costumes evangélicos. E, dos 40,25% que responderam “sim”, perto da metade relata a experiência sexual antes da conversão, sendo que um terço destes interrompeu a prática sexual após tornaram-se evangélicos, mantendo abstinência até o casamento. “Ainda há uma distância entre o discurso e a prática. Infelizmente, o cristianismo hodierno tem sido alvo de uma leitura seletiva da Bíblia: o que ‘me serve’ e o que ‘me atrapalha’”, diz o pastor e professor Alan Brizotti, de Goiânia (GO). Ministro da Assembleia de Deus e autor do livroDeus está na sua casa? Casamento, sexo e espiritualidade (Editora Primícias), ele, no entanto, comemora uma tendência sinalizada pela pesquisa. “O que mais me surpreendeu foi o nível de compromisso dos jovens cristãos com uma sexualidade sadia. Confesso que minhas suspeitas andavam na direção contrária, contudo, ao observar melhor os gráficos, meu coração se alegrou pela resposta positiva dessa juventude”,  Leia mais...
Cristianismo Hoje
jovensqueoram.blogspot.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A UNIÃO ENTRE OS IRMÃOS

Evangélicos praticam o nudismo “sem culpa” em praias brasileiras

Mateus 6:16-18